sexta-feira, 8 de maio de 2009

_PEDREGULHÁDOR

emmanoel cardoso
Ser caustico é ser vivo. Não há como negar o fato de estarmos sendo observados pelo olho cego do furacão. È uma tormenta que não cessa. Mil espelhos espalhados pelo jardim de Alá. No teto, nas paredes, horrendas flores escarlates e broqueis cor de anil a descarnar a cutícula da mente. E, repentinamente: - cabrunco! Não é que estava sonhando!? A realidade é medo. Perigo de se viver para sempre. Utopia não, é brincar no escuro, rasgar a seda do vestido da donzela. Pedra pomes que esfarela e lua nova no quintal. Ô saudade da baêa, de zabumba e ganzá, caruru, vatapá, abc, babá, sai pra lá saravá! Dizia sinhô pra cá, pra lá e nada de pejo, era o desejo de ter por perto solidão.
Lá no terreiro da casa do engenho brincava correndo, desenhava na terra desenho das cavernas e da televisão, êita povo besta esse do sertão. Carne seca, rapadura, bateria, solução. Foi lá num grande umbuzeiro que resmunguei o primeiro palavrão. Cabra da peste, arretado, não sabia o que dizia, mas as coisas fluíam do “cu do coração”. Tem jeito não, vozinha, acabou a procissão. Fala pra dinda que lá na cozinha tem farinha pro pirão. Pulei o cercado, me arranhei no velame, tapei a goteira da bica dos olhos com a bainha do facão. O cachorro perdigueiro, lambendo a ferida no pé de João. Corri lá de dentro, peguei meu chinelo, lancei num pato de papo amarelo de nome Pedrão. Do antro da sala, do lado de fora de toda essa porra me grita Maria: - uma gasguitinha, magrelinha, chatinha, feinha. É uma pena, pois, nem mesmo a desinência -inha mereceria tanta ingratidão, acordar assustado dum sonho de núpcias mais triste e lúdico em noite de São João.

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