sexta-feira, 22 de maio de 2009

_CAROS AMIGOS

emmanoel cardoso
Sempre andei sozinho, tive muitos amigos que foram se dispersando aos poucos e, ao termino de cada historieta, fiquei a ver navios, acreditando piamente que a cada nova descoberta, residiam os momentos mais relevantes dos meus dias.

Passei a enxergar em muitos dos meus fieis confidentes, a malicia necessária que deveria ter, e o mau de um bem que me tornaria o canalha pedantesco que me subjaz à espécie humana. Admiti que fossem eles os moderadores dos meus passos longos e apressados, donos dos ouvidos adestrados para a concórdia, eram mesmo os apaziguadores de minhas canalhices, das minhas tolices de rapaz cortejador.

Éramos os abraços mais apertados, bebíamos os licores mais doces que a vida nos oferecia, e ao mesmo tempo, fitávamos olhares de repúdio quando o outro sorria o seu mais terno sorriso. Nunca chorei tais perdas, mas sofria sempre a hora da partida, ficava um tanto chocado quando sentia a fragilidade que tinham aquelas horas arrastadas no tempo.

Acusava friamente o outro pelo abandono, nunca admiti ser o responsável pelas perdas que se sucediam. Quando os motivos que nos eram caros iam escorregando levemente e, estando despercebido do acontecido continuava buscando aconchego, rugia a onipresença, pois, caso o meu egoísmo gritasse lá de dentro, poderia rodear-lhes as pernas como um felino á procura de carinho. Ou melhor, espernear-me-ia como criança birrenta que quer um pirulito maior que o preso à mão.

Imagino que nunca irei descobrir como quão grande era o afeto que emanava e jorrava a golfadas, num espaço tão pequeno, tão modesto, simples como um vaso vazio que apara as goteiras num dia chuvoso, numa casa mofada à beira do nada.

Vinha à tona que o caos é quem rege o mundo e que o tempo sempre seria, como antes, o senhor de todas as danças.

Recuei um instante e vi que nada me cabia, o silêncio dizia as coisas necessárias, não ouvia por achar que as amarras da amizade bastavam e respondia, mesmo sem haver perguntas, tudo aquilo que poderia causar confronto imediato.

Sei agora que não havia causas, não existe nada que nos prenda, por mais forte que sejam as cordas
.

2 comentários:

Karine disse...

Se a amizade como dizia Mario Quintana, "é uma especie de amor que nuca morre", se o amor é uma invençao romantica datada!, se todas nossas apreensoes de sentido vao ate o limite da sobrevivencia do nosso ego, entao de fato naum temos amarras, apenas aquelas que criamos!!!

Maria Karina disse...

"...poderia rodear-lhes as pernas como um felino à procura de carinho...". Gostei tanto disso, me disse tanto!Desenhou aqui uma arquitetura textual sui generis, na qual tudo se destaca e se enlaça, permitindo perceber a tensão no traçado do conjunto.